Acaba a
noite e começa a gritaria:
- “olha
o cheiro, cheiroooso”...
Eu
nunca vi tanta correria:
- “tome
açaí... É gostoooso”...
Égua, arreda
aí, isso é todo dia!
É tanto
urubu acordando
abrindo
as asas para o sol.
É
quanto peixe chegando
saindo
da rede e do anzol.
É urubu
voando e gente e peixe chegando!
Começa
a manhã e acaba o silêncio:
- “diga
meu freguês”...
Todo
mundo fala que nem no hospício:
- “leve
um, leve dois, leve três”...
É
cultura, é negócio, é um vício!
É
purdimais urubu bicando
na
ilharga dos peixeiros
haja
embarcações chegando
e açaí
na abarga dos paneiros
e
toma-te gente gritando!
Artesanatos
e remédios vendidos aos palavrões
é a
farinha lançada na boca do trabalhador
frutas,
legumes, carnes, peixes e camarões,
é o
pitiú do peixe e o pituí do pescador.
São
cores, sabores e odores aos milhões!
E
quando chega a época que almejo
meu
coração vem preso ao cofo
tão
cheio e sujo como caranguejo
quão
carente como um fofo
mas,
gostoso como um beijo!
Acaba a
manhã e começa o almoço
É
cachorro latindo, é gato miando,
É aí
que começa o alvoroço:
É gente
comendo, açaí transbordando,
O urubu
já nem levanta o pescoço,
E
toma-te mosca sobrevoando,
Cabeça
de camarão, pele e osso,
Eitapauperêra
é muita gente chegando!
E
quando chega o Círio?
Chega
turista, chega pato, chega tucupi,
E haja
a chegar gente: é um martírio.
Chega
maniva, maniçoba, vatapá, açaí,
A
maioria dos urubus vai ao delírio!
Acaba o
almoço e começa à tarde.
E é aí
que eu fico surpreso:
porque
começa a acabar o alarde
Urubu,
cachorro, gato: tudo obeso,
vão
sumindo como somem os devardes
abandonando
o seu amor indefeso
pescadores
e comerciantes covardes
e os
que sujam a feira do Ver-o-Peso!
Começa
a noite quando a tarde acaba
O urubu
foi dormir, acabou a pavulagem,
acabou
a pupunha, o açaí, a bacaba,
só
ficou a sujeira esperando a lavagem
é
quando a maré enche e o toró desaba!
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