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quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Pororoca e rocambole de poesia!


Rio
     mar
            e azia
rio
    em rolo
                 anda
rio
     enrolando
                       maresia
rio
    sobre rio
                    embolo
                                 em bolo ando
rio
     em pó
                embolando
                                    o rio
rio
     em pororoca
                            de astasia
Rio
     em rock
                   bole
                           enrolando
                                             embolando
                                                                 rocambole de poesia!

                                           (Pororoca e rocambole de poesia, Paulo R. C. Guedes)

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Abrolhar

Luz que acende o céu
ascende o meu olhar
amanhece em mim...

Mormaço vem do véu
bonança ao abrolhar
nuvem de carmim...

(Abrolhar, Paulo R. C. Guedes)
Arte fotográfica de Jorge Herrán.

sábado, 25 de outubro de 2014

Colo da rua


sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Une verso


Último sonho juvenil


Visagem


terça-feira, 21 de outubro de 2014

Resgate providencial


O brilho e o trilho


quinta-feira, 9 de outubro de 2014

VER-O-PESO DO POEMA

Acaba a noite e começa a gritaria:
- “olha o cheiro, cheiroooso”...
Eu nunca vi tanta correria:
- “tome açaí... É gostoooso”...
Égua, arreda aí, isso é todo dia!

É tanto urubu acordando
abrindo as asas para o sol.
É quanto peixe chegando
saindo da rede e do anzol.
É urubu voando e gente e peixe chegando!

Começa a manhã e acaba o silêncio:
- “diga meu freguês”...
Todo mundo fala que nem no hospício:
- “leve um, leve dois, leve três”...
É cultura, é negócio, é um vício!

É purdimais urubu bicando
na ilharga dos peixeiros
haja embarcações chegando
e açaí na abarga dos paneiros
e toma-te gente gritando!

Artesanatos e remédios vendidos aos palavrões
é a farinha lançada na boca do trabalhador
frutas, legumes, carnes, peixes e camarões,
é o pitiú do peixe e o pituí do pescador.
São cores, sabores e odores aos milhões!

E quando chega a época que almejo
meu coração vem preso ao cofo
tão cheio e sujo como caranguejo
quão carente como um fofo
mas, gostoso como um beijo!

Acaba a manhã e começa o almoço
É cachorro latindo, é gato miando,
É aí que começa o alvoroço:
É gente comendo, açaí transbordando,
O urubu já nem levanta o pescoço,
E toma-te mosca sobrevoando,
Cabeça de camarão, pele e osso,
Eitapauperêra é muita gente chegando!

E quando chega o Círio?
Chega turista, chega pato, chega tucupi,
E haja a chegar gente: é um martírio.
Chega maniva, maniçoba, vatapá, açaí,
A maioria dos urubus vai ao delírio!

Acaba o almoço e começa à tarde.
E é aí que eu fico surpreso:
porque começa a acabar o alarde
Urubu, cachorro, gato: tudo obeso,
vão sumindo como somem os devardes
abandonando o seu amor indefeso
pescadores e comerciantes covardes
e os que sujam a feira do Ver-o-Peso!

Começa a noite quando a tarde acaba
O urubu foi dormir, acabou a pavulagem,
acabou a pupunha, o açaí, a bacaba,
só ficou a sujeira esperando a lavagem
é quando a maré enche e o toró desaba!

(Ver-o-Peso do Poema, Paulo R. C. Guedes).

terça-feira, 7 de outubro de 2014

[A]CORDA É CÍRIO! poema de Paulo Guedes.

Domingo, o segundo de outubro,
o galo acorda a madrugada
acorda todo mundo e descubro
que até a corda já está acordada!

O galo acorda e o povo canta
o canto acorda o badalo
o badalo acorda o sino
o sino, a corda, a Santa,
a Santa acorda o peregrino,
o romeiro, a corda, o regalo.

A Sé acorda a fé
a fé acorda Belém
Belém acorda a pé
a família devota vem.

A corda acorda a mão
a fé é a mão na corda
a pé, na corda, é devoção,
a corda com mãos engorda.

A corda não é pra qualquer um
qualquer um pega corda
ninguém vai à corda em jejum
a corda não é para açorda.

A corda acorda todo mundo
acorda rico, acorda pobre,
acorda nobre, acorda anônimo,
arrasta sono, arrasta ânimo,
arrasta sobre, arrasta e encobre,
arrasta um milhão em um segundo!

A corda arrasta o romeiro
“o pagador de promessas”
arrasta quem se sente sozinho
arrasta até os ateus nas pressas
arrasta tudo o que tem no caminho
pororoca de gente, tsunami brasileiro.

Égua do imã de gente!
vem gente, vem muita gente
de ver gente, vem divergente
do continente, vem contingente
vem indiano, vem indigente
vem hindu, vem indulgente
vem punk com pingente, vem pungente                                            
vem até o cético, sempre intransigente
égua do imã, Círio de gente
nunca vi (tanta) gente, vigente
das águas, vem o emergente
do convés, vem o convergente
que infringe, vem o infringente
que exige, vem o exigente
que interliga, vem o inteligente
que rege, vem o regente
que dirige, vem o dirigente
que reage, vem o reagente
se for polícia, vem o agente
se fede e pode deter, vem detergente
mesmo que não seja urgente
mesmo que seja adstringente,
rogo que seja abrangente,
porque nunca vi tanta gente,
isso, sim, é tangente,
Ó imagem imanente
égua do imã de gente
vem gente, vem muita gente!

A gente tem mãos
as mãos que tiram a corda do rolo
a corda que puxa o andor da Santa na berlinda
a berlinda que conduz a Virgem com o menino no colo
o menino Jesus despido com o globo terrestre em suas mãos...

Ah, essas mãos!
une a mão na mão
gruda a mão n’outra mão
cola a mão na palma da mão
é um aperto de mão
tem mão na contra mão
tem muita mão na corda
é uma corda de mão
é um carro de mão
é corrente de mão
é correnteza de mão
é corrimão
é quilômetro de mão
um século de mão
uma procissão de mão
toda a fé na mão
toda corda na mão
a mão que sangra, irmão
imploro de antemão
a mão tem que ir, irmão
a carne viva na mão
por favor, puxem o freio de mão!
Égua, é muita mão!                                                                        

gentegentegentegentegentegentegentegentegentegentegentegentegente
mãonamãonaoutramãoapertodemãomuitamãocordademãocarrodemão        
cordacordacordacordacordacordacordacordacordacordacordacorda
correntedemãocorrentezademãocorrimãoquilômetrodemãoséculodemão
gentegentegentegentegentegentegentegentegentegentegentegentegente

a gente sente calor
a gente sente sede
a gente sente dor
a gente sente fome
a gente sente gente
atrás da gente, rente
ao lado e na frente
pisando a gente sente
chorando no asfalto quente
égua, é muita gente
égua, queremos água
água para beber
água para molhar
água para viver
água para pisar
água, a gente quer
água, muita água
água mineral
água bem gelada
água natural
água batizada
água de poço
água torneiral
água de coco
égua, cadê a água?

Santa, o povo mira em ti
haja brinquedo de miriti
brinquedo leve que encanta
cata-vento, girândola, tem aqui,
só não vi nenhum de anta
eu queria um do bem-te-vi
cobra pequena num adianta
bacana é cobra grande, sucuri,
tem até barco de miriti
égua, nunca vi tanto miriti!

Tem muitas imagens em cera:
na verdade, feitas em parafina,
cabeça ou perna é grossa,
já a vela do círio é fina.                                                                      

A procissão agora existe
assim começa a peregrinação!

Barcas são veículos,
carros são andores,
guardas são vínculos,
anjos são pecadores,
políticos são pávulos,
Fogos? São estivadores!

Aí começa a chover papel
junto aos fogos de artifícios
parece uma festa santa no céu
que encanta os caboclos beócios
aí começa o delírio, abençoado escarcéu,
aí começa o Círio!

A berlinda em cedro vermelho
estilo barroco, coberta de flores
no Sol, a Santa brilha mais que espelho
sob o manto bordado e cravejado de cores

Ah, o seu alvo manto canônico
ornado com fios e enfeites de ouro
triângulo símbolo e sinal mnemônico
Ó manto santo, vestes divino tesouro!

promessapromessapromessapromessapromessapromessapromessa
miritimiritimiritimiritimiritimiritimiritimiritimiritimiritimiritimiritimiritimiriti
gentegentegentegentegentegentegentegentegentegentegentegentegente
mãonamãonaoutramãoapertodemãomuitamãocordademãocarrodemão
cordacordacordacordacorda SANTA cordacordacordacordacorda
mãocordademãocarrodemãocorrentedemãocorrentezademãocorrimão
gentegentegentegentegentegentegentegentegentegentegentegentegente
miritimiritimiritimiritimiritimiritimiritimiritimiritimiritimiritimiritimiritimiriti
promessapromessapromessapromessapromessapromessapromessa

Chegou à Praça Santuário!

Viva a Basílica de Nossa Senhora de Nazaré!

Aqui havia o Igarapé Murutucu onde a Santa apareceu pela primeira vez!

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Nênia


quinta-feira, 2 de outubro de 2014

O pária

O pária. 
             Paulo R. C. Guedes

O estulto feto abortado na espurcícia
hoje é pária, nômade, na indigência.
A tez expressa sua insana blandícia
o corpo denota a concupiscência
                         da obsolescência

Um sobrevivente do holocausto
um subserviente da demência
um rato humano, escravo vetusto,
caçador estercoral, quintessência
                           da condolência

Um noivo da vala, marido da fome,
pária social, pescador de babugem,
olho que fala, boca que não come,
trapo, farrapo, molambo, visagem
                               do vai-e-vem